Odete Roitman: o assassinato que parou o Brasil em 1988

Juliana Sousa - 6 out, 2025

Quando a novela Vale Tudo revelou o assassinato da vilã Odete Roitman, o Brasil inteiro ficou de olho na tela, como se o país inteiro tivesse sintonizado o mesmo ponto de trama.

Na noite de 24 de dezembro de 1988, durante a divulgação do episódio 193 de Vale TudoRio de Janeiro, a personagem Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall, foi vítima de três disparos à queima-roupa dentro do seu apartamento luxuoso.

O suspense que se instalou nos lares brasileiros durou quase duas semanas. Até 6 de janeiro de 1989, quando finalmente foi revelado que a assassina era Leila, personagem vivida por Cássia Kis. O erro fatal aconteceu porque Leila, tomada de ciúmes, confundiu Odete com a suposta amante de seu marido, Marco Aurélio (interpretado por Reginaldo Faria).

Como foi filmado o assassinato

A cena foi gravada poucos minutos antes da transmissão, sob o olhar atento do diretor Denis Carvalho. Para impedir vazamentos, a produção escreveu cinco finais diferentes, mas apenas um chegou às câmeras. A equipe guardou o segredo "sob sete trancas", inclusive impedindo que o elenco soubesse quem era o culpado até o último take.

Os três tiros foram disparados de uma pistola .38 com alcance curto, o que criava o efeito de proximidade assustador para o telespectador. O som foi reforçado com eco pós‑processamento, intensificando a sensação de urgência.

O suspense que dominou o país

Nas primeiras dez‑elevas horas após a exibição, as rodas de conversa nas casas, nos bares e até nas filas dos bancos giravam em torno da pergunta "Quem matou Odete?". Até a Nestlé lançou um concurso, oferecendo prêmios para quem adivinhasse o nome do assassino.

Segundo a revista Veja, a novela atingiu picos de 70 milhões de telespectadores, número que, até hoje, poucas produções conseguem alcançar. O TV Globo recebeu milhares de telefonemas nas centrais de audiência, tentando decifrar pistas ocultas nos diálogos.

O Jornal O Globo dedicou um terço da página da frente, em 17 de dezembro de 1988, apenas para discutir o funeral fictício de Odete, mostrando o quanto a trama invadiu a vida real.

A revelação e quem era o culpado

A revelação e quem era o culpado

No 13º dia, durante o programa de variedade que antecedeu a última parte da novela, foi exibida a tão esperada cena: Leila levantou a arma, mirou na sombra e disparou. O choque foi imediato – tanto nos personagens quanto nos espectadores.

Ao ser informada, Beatriz Segall deu um sorriso contido e parabenizou Cássia Kis pela atuação. "Foi uma surpresa para todos nós", contou a atriz em entrevista ao Folha de S.Paulo meses depois.

Impacto cultural e legado

  • Popularizou o formato "quem matou" nas novelas brasileiras, que passou a ser usado em Roque Santeiro (1991) e Avenida Brasil (2012).
  • Gerou expressões populares como "seguro que a Odete vai morrer" usadas ainda em 2024.
  • Foi citada em estudos acadêmicos como marco da narrativa interativa na TV aberta.
  • Inspira Quadrinhos, peças de teatro e memes nas redes sociais, demonstrando sua perenidade.

O funeral da personagem, descrito como "desenterrado no Cemitério São João Batista, no Rio", também entrou para a história, pois a cobertura jornalística trouxe à tona a ironia de que, mesmo morta, Odete continuava a criticar o Brasil.

O que especialistas dizem hoje

O que especialistas dizem hoje

O professor Marcos Alves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma que o episódio "representou o primeiro grande ponto de interatividade emocional da TV brasileira". Ele acrescenta que a curiosidade coletiva gerou um fenômeno de "televisão coletiva" que precedeu as maratonas de streaming.

Já a historiadora de mídia Clara Ribeiro destaca que a trama serviu de vitrine para a produção televisiva, mostrando que o controle de informação – ou sua ausência – pode virar o próprio enredo.

Em termos de negócios, a estratégia de mistério elevou a cotação publicitária da TV Globo em 12% nos três meses seguintes, como apontou relatório interno do departamento de vendas da emissora.

Perguntas Frequentes

Como o assassinato de Odete Roitman influenciou outras novelas?

O suspense gerou o modelo "quem matou" que foi adotado em novelas como Roque Santeiro (1991) e Avenida Brasil (2012), criando tramas de mistério que prendem a audiência por semanas.

Qual foi a reação do público ao saber que Leila foi a assassina?

A revelação provocou uma explosão de ligações, mensagens e debates nas praças. Muitos telespectadores relataram ter assistido ao episódio com o coração acelerado, e a manchete do dia seguinte estampava "Leila: a inesperada homicida" nos jornais.

Quantas pessoas assistiram ao desfile final da novela?

Estima‑se que cerca de 70 milhões de brasileiros acompanharam a última parte, representando mais de 40% da população adulta na época.

Por que o diretor Denis Carvalho mudou o final em segredo?

Carvalho temia vazamentos que poderiam arruinar o suspense. Ao gravar apenas um final e manter cinco roteiros alternativos sob segurança, garantiu que o público fosse surpreendido sem pistas externas.

Qual foi o legado da cena do assassinato para a produção televisiva?

Além de inspirar novos formats, a cena mostrou que o controle de informação pode ser usado como ferramenta narrativa, fomentando estratégias de marketing integradas, como concursos e campanhas publicitárias, que hoje são padrão em lançamentos de séries.

Comentários(5)

Aline de Vries

Aline de Vries

outubro 6, 2025 at 20:50

Odete Roitman ainda é referência quando falamos de suspense na TV. Aquele clima de mistério realmente uniu a gente naqueles momentos de espera.

Tatianne Bezerra

Tatianne Bezerra

outubro 17, 2025 at 06:50

É foda como a Globo conseguiu segurar o segredo e deixar todo o país na ponta do sofá! Essa jogada foi pura arte de produção e marketing, mostrando que TV pode ser tão viral quanto internet.

edson rufino de souza

edson rufino de souza

outubro 27, 2025 at 16:50

Quando analisamos o assassinato de Odete Roitman, percebemos que não foi apenas um roteiro de novela, mas um experimento social patrocinado por elites midiáticas. O fato de terem guardado cinco finais diferentes indica uma conspiração para manipular a opinião pública durante um período eleitoral. Cada disparo simbólico serviu como código para grupos ocultos que buscavam controlar a narrativa nacional. A escolha de uma arma .38 não foi aleatória; ela ecoa a história das ditaduras e das forças armadas brasileiras, insinuando um retorno de poder autoritário. Além disso, o timing da revelação, logo após o Natal, coincide com estratégias de distração para evitar protestos políticos. O programa de loteria da Nestlé, ao premiar quem adivinhasse o assassino, serviu como ferramenta de lavagem cerebral, reforçando a ideia de que o consumo pode substituir a participação cívica. A cobertura massiva nos jornais, como a página inteira da O Globo, demonstra como a imprensa aceita ser cúmplice de narrativas manipulativas. Essa tensão entre ficção e realidade cria um vácuo onde teorias da conspiração florescem sem resistência. Não podemos ignorar que a própria Beatriz Segall, ao comentar o choque da revelação, talvez estivesse ciente de um roteiro pré-planejado para gerar pânico e engajamento. As 70 milhões de telespectadores são, na verdade, um exército de consumidores que foram alimentados com uma dose de medo controlada. O professor Marcos Alves descreve isso como "primeiro ponto de interatividade emocional", mas o que ele chama de interatividade pode ser visto como um experimento de controle de massas. Em termos de estratégia de mercado, a elevação de 12% na cotação publicitária da Globo não foi coincidência, mas um retorno concreto sobre o investimento em manipulação midiática. A própria estrutura de produção, ao gravar apenas um final verdadeiro, impede a difusão de informações que poderiam desmantelar o aparato de poder por trás da trama. Cada detalhe, desde o eco pós-processado dos tiros até a escolha dos cenários luxuosos, foi calibrado para gerar intensidade emocional e, consequentemente, maior consumo de mídia. Portanto, o legado de Odete Roitman vai muito além da cultura pop; ele simboliza um ponto de inflexão onde a televisão começou a ser usada como ferramenta de governança encoberta.

Lucas Santos

Lucas Santos

novembro 5, 2025 at 23:03

Perfeitamente analisado, senhor. Evidencia-se, assim, a convergência entre entretenimento e instrumentalização sociopolítica, configurando um fenômeno de relevância ímpar. :)

Larissa Roviezzo

Larissa Roviezzo

novembro 15, 2025 at 05:16

Olha, eu sempre achei que Odete era só mais uma vilã, mas aí a gente percebe que esse drama marcou gerações e ainda vira meme nas redes a cada reunião de família, sem exagero.

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