Inflação de setembro 2025 sobe 0,48% e contas de luz sobem 10,3%

Juliana Sousa - 10 out, 2025

Quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na quinta‑feira, 10 de outubro, que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,48% em setembro de 2025, o país sentiu o efeito imediato no bolso. O aumento, o maior para o mês de setembro nos últimos quatro anos, veio impulsionado principalmente por uma escalada de 10,3% nas tarifas de energia elétrica, consequência direta da manutenção da bandeira tarifária vermelha Patamar 2 determinada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para quem paga a conta, isso significa R$ 7,87 a mais a cada 100 kWh consumidos – e a ausência do "Bônus de Itaipu" só piorou a situação.

Contexto histórico da inflação no Brasil

Não é a primeira vez que o IPCA chega a quase meio por cento em um único mês. Em setembro de 2021, por exemplo, a inflação subiu 0,51%, já depois de um forte rebote pós‑pandemia. Mas nos últimos anos, os números tinham se mantido abaixo de 0,4% em média, o que fez da alta de 2025 um detalhe que chama atenção. O acumulado de janeiro a setembro de 2025 chegou a 3,64%, enquanto o índice dos últimos 12 meses – de outubro de 2024 a setembro de 2025 – ficou em 5,17%, ainda acima da meta de 3,0% +‑0,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano.

Detalhes do IPCA de setembro de 2025

O levantamento do IBGE contou cerca de 430 mil preços em 30 mil estabelecimentos espalhados por 13 áreas urbanas do Brasil. Entre eles, a energia elétrica foi o destaque, com alta de 10,3% em relação ao mês anterior, revertendo a queda de 4,21% registrada em agosto. O INPC, outro índice que acompanha o consumo das famílias, também subiu 0,52% no mesmo período, confirmando a pressão inflacionária em diferentes faixas de renda.

“O impacto da tarifa de energia está sendo sentido mais intensamente nos lares de baixa renda, que já lutam para fechar o mês”, comentou Laura Pereira, economista da Fundação Getúlio Vargas. “Se o salário médio crescer menos que a inflação acumulada de 5,17%, o poder de compra real está diminuindo”, completou.

Reação da Aneel e das tarifas de energia

Reação da Aneel e das tarifas de energia

De acordo com a reportagem da UOL Economia, a Aneel manteve a bandeira vermelha Patamar 2 durante todo setembro, conceito que autoriza o aumento de R$ 7,87 a cada 100 kWh. O órgão explicou que a medida foi necessária para cobrir os custos de geração em períodos de escassez hídrica e sobrecarga nas hidrelétricas. Já o "Bônus de Itaipu", que havia reduzido as contas em cerca de R$ 11,59 por consumidor em agosto, não foi concedido em setembro, pois o programa exigia consumo inferior a 350 kWh em pelo menos um mês de 2024 – critério que poucos cumpriram.

“A decisão de suspender o bônus foi tomada em conformidade com a lei e reflete a necessidade de equilibrar as contas da usina”, afirmou um porta‑voz da Aneel, que preferiu não ser identificado.

Impacto no poder de compra e respostas do Banco Central

Para o Banco Central do Brasil, a inflação acima da meta pressiona a política monetária. O Comitê de Política Monetária (Copom) ainda não anunciou mudanças na taxa Selic, mas observa atentamente o Relatório de Mercado Focus, que reúne as previsões dos analistas. Se a tendência de alta persistir, pode haver uma nova elevação da taxa básica para conter as pressões inflacionárias.

O cidadão comum sente o efeito na conta de luz, mas também nas compras do dia a dia: alimentos, transporte e serviços mostram sinais de aumento discreto, reforçando a percepção de que a inflação ainda está longe de ser controlada.

Perspectivas e próximos dados

Perspectivas e próximos dados

O próximo número do IPCA, referente a outubro de 2025, deve ser divulgado na primeira semana de novembro, conforme o calendário oficial do IBGE. Analistas esperam que a estabilização da bandeira tarifária, caso ocorra, traga um freio na inflação de energia, mas admitem que fatores externos – como a volatilidade dos preços internacionais do petróleo – podem reverter a tendência. Enquanto isso, o governo federal ainda não definiu novas medidas para mitigar o impacto nos consumidores mais vulneráveis.

Perguntas Frequentes

Como a alta da tarifa de energia afeta as famílias de baixa renda?

A conta de luz representa até 15% do orçamento das famílias com renda mensal inferior a três salários mínimos. O aumento de 10,3% eleva o gasto médio em cerca de R$ 30 a R$ 45 por mês, pressionando ainda mais o saldo disponível para alimentação, transporte e saúde.

Por que o "Bônus de Itaipu" não foi aplicado em setembro?

O benefício exigia que o consumidor tivesse consumido menos de 350 kWh em pelo menos um mês de 2024. Como a maioria dos usuários ultrapassou esse limite, a Aneel não concedeu o desconto, o que acabou refletindo diretamente no aumento das contas de setembro.

O que o Banco Central pode fazer para conter a inflação?

Além de ajustar a taxa Selic, o Banco Central pode usar instrumentos como a modulação da taxa de juros de longo prazo e a comunicação de metas mais rígidas. Contudo, mudanças bruscas podem desacelerar a economia, então o ajuste costuma ser gradativo.

Qual a expectativa para a inflação em outubro de 2025?

Analistas do mercado antecipam uma leve desaceleração, talvez em torno de 0,30% a 0,35%, caso a bandeira tarifária seja alterada para verde. Ainda assim, a pressão de preços em energia e alimentos pode manter a inflação acima da meta de 3%.

Quais medidas o governo pode adotar para proteger o consumidor?

Possíveis ações incluem a ampliação de programas de subsídio à energia para famílias de baixa renda, a criação de linhas de crédito com juros reduzidos para pagamento de contas e a revisão temporária das tarifas em períodos de crise hídrica.

Comentários(1)

Jocélio Nascimento

Jocélio Nascimento

outubro 10, 2025 at 04:02

Os números divulgados pelo IBGE mostram que o IPCA de setembro subiu 0,48%, um sinal de pressão inflacionária que não pode ser ignorado. Esse movimento supera a média dos últimos anos e reflete, principalmente, a alta nas tarifas de energia elétrica. Para famílias de baixa renda, o aumento de 10,3% nas contas de luz representa um peso considerável no orçamento mensal. É fundamental que as políticas públicas considerem medidas compensatórias para evitar a deterioração do poder de compra.

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