Vandalismo no Parque Pedra do Xangô escancara fragilidade na proteção do patrimônio afro-brasileiro em Salvador

Clarice Oliveira - 25 abr, 2025

Insegurança ameaça patrimônio religioso e cultural em Salvador

O Parque Pedra do Xangô acordou em choque depois de mais um episódio de vandalismo na madrugada de 23 de abril de 2025, bem no momento da troca de turno dos seguranças. O episódio não passou despercebido, principalmente pelas casas de Candomblé da região, que logo cedo descobriram o cenário de destruição enquanto realizavam um ritual tradicional. Um homem não identificado aproveitou a brecha e entrou no prédio administrativo do parque, que fica no bairro de Cajazeiras. Ele não só danificou as instalações e rasgou fiações elétricas—deixando o parque às escuras—como também levou objetos pessoais e até remédios de funcionários.

O caso levanta um alerta ainda mais grave porque o parque já é alvo recorrente desse tipo de ataque desde 2024. Só nos últimos meses, a onda de arrombamentos vinha se repetindo, forçando líderes locais e representantes culturais a registrarem várias queixas policial. A Fundação Gregório de Mattos, órgão destacado pela defesa do patrimônio cultural, ecoou o pedido da comunidade por mais proteção e medidas que façam diferença no cotidiano de quem depende do parque. Não se trata apenas de um espaço físico. O local representa resistência, memória e identidade para religiões de matriz africana, principalmente o Candomblé, e ganhou o título de lugar sagrado e protegido em 2017.

A Secretaria de Sustentabilidade, Resiliência e Bem-estar Animal (SECIS) e a Guarda Municipal correram para o local assim que tomaram conhecimento dos fatos. Os prejuízos materiais logo entraram no radar da equipe de manutenção da prefeitura, que começou consertos emergenciais para restabelecer energia e recuperar parte dos danos provocados pelo invasor. Mas, para quem frequenta e cuida do parque, o clima de insegurança só aumenta: a cada novo ataque, cresce a sensação de abandono, principalmente diante da incapacidade do Estado em impedir essas ações sistemáticas.

Pressão por segurança e respeito ao patrimônio afro-brasileiro

Pressão por segurança e respeito ao patrimônio afro-brasileiro

A população do entorno e as lideranças religiosas vêm pressionando por segurança reforçada desde os primeiros episódios de vandalismo. O vereador André Fraga ecoou o sentimento de indignação nas redes sociais, lançando mão do desabafo “Triste Bahia” ao destacar a falta de resposta das autoridades. O episódio virou exemplo do avanço da violência urbana, mas também de um descaso com o que simboliza a cultura afro-brasileira. Não é exagero dizer que cada agressão ao Parque Pedra do Xangô é sentida como uma ofensa direta a toda uma história de luta por reconhecimento e respeito.

No centro do debate, está não só a necessidade de policiamento ou tecnologia de segurança, mas a valorização real do espaço religioso e cultural que o parque representa. Recentemente, a própria SECIS não poupou palavras ao classificar o crime como reflexo de um fenômeno maior: a escalada da violência urbana está atingindo funcionários públicos, frequentadores e líderes comunitários, colocando em xeque a capacidade das instituições em proteger quem conserva a memória viva de Salvador.

Em 2017, o parque foi tombado como patrimônio cultural, numa tentativa de garantir proteção legal e celebrar as raízes africanas que ajudaram a moldar a cidade. Mas esse título tem se mostrado insuficiente diante de ataques cada vez mais frequentes, abrindo debates sobre políticas públicas de preservação, inclusão de câmeras de monitoramento, rondas policiais regulares e, principalmente, diálogo com quem faz do local um espaço vivo de cultura e fé.

  • Moradores e religiosos reivindicam ações urgentes e permanentes, não apenas reações pontuais após cada vandalismo.
  • O clima de insegurança desmotiva eventos culturais e religiosos no parque, afetando toda a dinâmica da comunidade.
  • O patrimônio afro-brasileiro depende de mobilização e respeito de todas as esferas públicas e privadas para sobreviver e prosperar.

Enquanto isso, o Parque Pedra do Xangô tenta resistir com a força de seus símbolos e de quem acredita na importância de preservar a memória afro-brasileira em Salvador. O apelo por segurança e reconhecimento segue ecoando pelas ruas e redes sociais, sinalizando que proteger o parque é proteger a própria identidade da cidade.

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